domingo, 26 de março de 2017

ESTAMOS DEVENDO O QUÊ???





Paulo Sergio

Parece aquela historinha dos quintos dos infernos, da louca da Carlota.  Pois olha, eu aqui pensando que isso é coisa do passado, que já foi tudo superado e que isso não me diz mais respeito......  Caramba!! – afinal a gente pagou ou não essa porra do Quinto???  Creio que alguém está trabalhando dia e noite para nos fazer crer que não, e mais: “que nós, brasileiros, é que devemos pagar a conta”.  Mas que conta mesmo, hein???

Nosso pai trabalhou a vida inteira não como um mouro, mas como um verdadeiro camelo.  Até onde pude sentir nas conversas de minha infância e no que observei, parece que o sonho de nosso pai, era estudar, ele gostava disso; apenas com o antigo primário, dominava vários assuntos, tinha um significativo conhecimento de muitas coisas, era uma cultura consideravelmente vasta, mas era um cara simples, muito simples mesmo, e educado.

Ele e seus dois irmãos perderam o pai quando ele mesmo, o mais velho, nem havia completado a idade para servir o exército.  Por isso mesmo, não serviu, pois naquele tempo, o mais velho tinha a obrigação de cuidar da mãe e dos irmãos; isso era lei e era um costume tradicional entre as antigas famílias.

Pois bem, assim o fez: seus irmãos estudaram o básico inteiro, sendo que um deles, o do meio, chegou a fazer técnico em contabilidade – algo raro naquela 1ª metade do século XX.  Nossa avó, D. Emília, como sempre o fez, foi até não poder mais trabalhando no que sabia fazer: cultivava uma horta para vender aos vizinhos; criava coelhos e os matava para um jantar mais especial de alguém que pudesse pagar e lavava roupas para fora.  Aos 60 anos D. Emília parecia uma velhinha de 90 dos dias atuais – gente sofrida mesmo.

Nosso pai, filho de portugueses do tipo “pé rachado” carregou uma labuta não de muita sorte: já casado, ainda morando na propriedade da família paterna, conseguiu comprar umas máquinas, caras para a época, tais como serradeiras, lixadeiras, polideiras etc. – montou uma tamancaria.  É que naquele tempo, tanto em São Vicente como em muitas ruas de Santos, que era tudo lama, além das mulheres os homens também costumavam usar tamancos e os negócios iam bem.  Meu pai contava que na época, muita gente descia a Serra e baixava nas imediações do bairro do Catiapoã, em São Vicente, ou mais precisamente: na “Vila Sorocabana” a uns 200 metros da tamancaria dele (justamente onde conheceu minha mãe).  Dizia também que muitos jovens começavam por ali, pedindo trabalho avulso para começar a vida: riscadores, pregadores, coladores, pintores de tamanco, vendedores e tudo mais.

Ele mesmo ainda chegou a me dizer por umas 2 ou 3 vezes que quando os chinelos “Havaianas” entrou no mercado, todas as tamancarias da região sofreram um baque muito forte.  Ele aguentou até não mais poder, quando finalmente, dispensou os funcionários mais antigos e os horistas e foi trabalhar de cobrador de ônibus na antiga Viação da Sorocabana.  Neste tempo, já tinha três filhos e eu nem sei se pensava estar por aí.

Trabalhou um tempo na Viação, isso também o tornou muito conhecido nas cidades do nosso entorno.  Não tardou e conseguiu um emprego de gerente de móveis planejados na antiga loja de departamentos “Seears” (móveis planejados em Santos era um capricho que poucos podiam pagar, mas sua experiência de tamanqueiro, ofereceu a intimidade necessária para vender bons trabalhos).

Assim, nosso pai, sozinho, desde a década de 1970, mantinha uma família de 7 pessoas (com alguma ajuda de nossa avó materna, que morava com a gente).  Cuidou de todos nós, foi realmente competente.  Ele conversava, orientava pacientemente, passeava com a gente, cultivava uma boa biblioteca em casa para os filhos, trazia presente como HQ’s raros e brinquedos originais, incentivava a leitura, as artes, certas engenhocas, o estudo de nós todos, e inclusive, manjava de uns paranauê......  Quando lembro, costumo dizer que sempre fomos realmente pobres, mas nunca, nunca fomos miseráveis como se vê vergonhosamente nas quebradas hoje em dia.  Uma vergonha!!........

Depois de uma vida inteira camelando, aposentou com 53 anos ao mesmo tempo que contraiu uma leocemia, sentiu a separação de toda família num casamento de 26 anos, e, após um ano de aposentadoria, em 1986 veio a falecer.

Depois disso, minha vida e de alguns dos meus irmãos, foi só porrada.  Todos prontos para continuar os estudos, mas toda expectativa morreu junto com o velho.  Confesso que quase explodi, e com uma ajudinha aqui, outra ali, como todos os demais, fui superando.......

Pessoalmente, trabalhei por décadas como um escravo, mas não posso negar que aprendi muito, a vida foi ensinando suas duras e contínuas lições.  Com mais ajuda, consegui estudar, e jogado ora pra lá, ora pra cá, me formei professor, de história.  Resumindo: “Assim como meu pai, logicamente seguindo meu próprio caminho e construindo minha própria história, virei outro camelo”.

Saí da faculdade em dezembro de 2004.  Em fevereiro de 2005, comecei a lecionar sem nunca ter parado e hoje já contam 17 escolas no meu currículo.  Muita guerra, muita briga, bem assim como a Educação pública urge precisar.  Há cerca de 2 anos, em 2014, já de olho nas notícias de golpes e esforços de contra-golpes, fui percebendo e também avisado, do que se articulava de forma muito meticulosa contra o projeto que se fazia em prol do país.  Em minha esfera local, foram ataques que iam de afrontas e trapaças; havia quadrilhas com comparsas espalhados em todos os cantos para articular o golpe que se efetivou em 2016 e por agora continua a nos desafiar.  Foram tantos, como estão também ainda sendo, que mal deu condições necessárias de análise a fim de se montar o quebra-cabeças.  De qualquer forma, hoje o mapa já está quase todo desenhado e popularmente conhecido.

Nestes micro-processos difusos, uma amiga do círculo começou a nos instigar: “pense fora da caixinha”.  Não esqueci isso e tenho trazido este “olhar”, que nada mais é do que um ângulo externo de análise para enxergar o quebra-cabeças que de muito perto nos é incompreensível, pois a imagem é descomunal.  Porém, vendo de longe, assim “de fora da caixinha”, a gente é capaz de perceber, por exemplo, que a “vida complicada” é uma ideia forjada e com o único intuito de nos tornar cegos à verdade.

Então, a nação brasileira, com seus 8.516.000 km² e sua população com pouco mais de 200 milhões de habitantes, que não é um país de guerras centenárias instituídas e nem um território gelado como a Patagônia ou de areia escaldantes como o Saara; com títulos de “pulmão do mundo”, “celeiro do mundo”, a “maior biodiversidade do mundo”, o “maior reservatório potável do mundo” o maior sei lá o quê, o melhor em sei lá o quê........  Pois bem!! – “eu que tive um pai camelando pra vencer e fazer a família vencer; eu que trabalho desde os 15 anos sem parar, tal qual um camelo; que estudei, dei o melhor de mim, assim como até hoje o faço com muito gosto; eu que me dôo a cada dia o mais que posso; que me esforço em estar em paz com minha própria consciência; que sempre fui bom pagador – veja: eu fui despejado ‘devendo’ R$ 13.000,00, deixando a conta para uma amiga (que acho que perdi, sei lá); ÔRRAZ – EU TÔ DEVENDO O QUÊ, CARAI???” – e quantos???  Quantos estão “devendo” alguma coisa neste país que vive eternamente pagando os quintos dos infernos???  Tô cansado de brincar disso, sabe.......  Não tenho a menor dúvida: “A CONTA ESTÁ TODA ERRADA” – o momento é de cobrar, nem que seja no grito........

Um pais dessas proporções, que nem de longe tem só vagabundos como gostam tanto de propagar muitos incautos que pensam que são italianos, mas não são; portugueses, mas não são; japoneses, mas não são; ingleses, mas não são; libaneses, turcos, mas não são – mas que também, “nem são brasileiros”, porque pensam que são melhores, porque são brancos, porque têm uma cultura europeia, porque não são nem convivem diretamente com índios, ora o que são???  São estúpidos que nem sequer se identificam com a própria nação a que pertencem.......  Estúpidos porque nunca pararam pra perceber que toda essa riqueza poderia nos garantir com sobra, moradia, vestimenta, comida, saúde, educação, cultura – não precisaria faltar nada a ninguém, e fazem o papel do contra, como se fossem melhores  (propres)........  Estúpidos porque são egoístas, que negam a todos que construíram e constroem suas moradias, seus serviços de luxo, seus caprichos banais como se tudo estivesse bem, pois para essa meia-dúzia de privilegiados, nada lhes falta.......  São tão estúpidos que não têm a coragem de assumir-se brasileiros e, menos ainda, falar abertamente que não vivem na Itália, no Japão, na Alemanha, no Canadá, nos EUA, simplesmente porque lá não morariam em casa; acham esses lugares mundos superiores, mas não falam a ninguém que tentaram, mas lá seus vistos foram recusados.......  Que nestes lugares, tendo dinheiro, abrem-lhes até tapete vermelho, mas não o tendo, são mesmo estrangeiros amaldiçoados, fadados a servir cerveja nos bares, cafezinhos na universidade, limpando vidros dos arranhaceis, lavando privada......  Seriam menos do que estrangeiros, e digo amaldiçoados mesmo, por serem vistos como desertores de um país que necessita urgente de ética, de força, de trabalho, de coragem, de amor, de afeto, de sensibilidade, de gente........  “Ora” – devem pensar os lojistas às madames que compram nas lojas de Nova Yorque: “o que estes desertores que pagam de bacana traindo sua própria gente fariam de bom aqui entre nós???”.  Este time pó-de-arroz deveria ter um mínimo de caráter pra não voltar às arquibancadas nas olimpíadas, tamanha vergonha pra gringo ver: todo mundo branquinho, gordinho, engomadinho.  Haha – “logo no Rio de Janeiro”, que mais da metade da população é negão.......  Estúpidos!!

Mas fora da caixinha é isso: conseguir perceber que toda a cultura deste sistema financeiro desenvolvido e regulado para manter o gado sob controle, só tem uma utilidade: “OFERECER A OPORTUNIDADE DE QUEBRAR AS PORRAS DAS CORRENTES DE UMA VEZ”.  Então, concidadãos brasileiros: “quando a porra da banda passar na tua porta, nem pergunte nada.......  desça de uma vez e vamo junto”. 

Coragem!! – ninguém está sozinho, e o gosto da justa liberdade é mais apetitosa degustar em família.

#SomosTodos  -  Santos/SP – 22MAR2017